O
Causo do Burro
Um pequeno
sitiante pelas bandas de Ouro Fino,possuía um burro do
qual tinha a maior estima. Antigamente, cavalos, burros,
carroças e carros de bois eram os únicos meios de
transporte para se locomover por estradas esburacadas e
cheias de atoleiros em tempo de chuva. Valiam ouro! Um pequeno roceiro entupia de carga o
coitado do seu burrinho de estimação e ia à cidade
trocar suas mercadorias. Naquele tempo, não corria
dinheiro. Trocava-se mercadoria! Produtos da roça por
produtos da cidade, como: sal, querosene,
ferramentas e outras coisas mais. Então, de tanto ir à cidade puxando seu
burrinho, o danado do burro já fazia o trajeto sozinho
depois de algum tempo e seu dono podia ficar cuidando do
roçado. O dono da “venda”, sabedor do que se tratava,
retirava a sacaria do lombo do burrinho e de dentro dos
sacos um bilhete instruindo sobre a troca: Um litro de
carozeni, sar, um masso di vela pra muié pagá proméça,
uma lamparina, uma foisse boa de corte, salamargo, 200
grama de porva e meio quilo de chumbo pra ispingarda, um
par de butina, e... se desse,
uns cumprimido pra dor de cabeça da muié...”
Tudo era embalado cuidadosamente e jogado no lombo do
danado do burrinho e o dono da “venda” o encaminhava de
volta com uns bons tapas no traseiro. Anos e anos o burrinho fazendo a mesma coisa... Porém, o dono do burro começou a notar que
seu burrinho de estimação não vinha mais todas as manhãs
no curral e sempre o encontrava pelo pasto encostado
numa árvore dormindo tranqüilamente. Praguejando, laçava
o danado e o entupia de mercadoria rumo à cidade. Quando olhou para a porteira já de tardinha,
o coitado do burro estava lá parado e como sempre de
olhos completamente fechados! Mal seu dono acabou de
retirar toda a carga o pobre animal cai pelo chão! Surpreso, o roceiro o apalpou tentando
encontrar uma explicação para aquilo! O danado do burro estava geladinho! Mortinho da Silva! Não acreditou no que via! Imediatamente
mandou chamar na fazenda vizinha um veterinário que
trabalhava para o governo fazendo vacinação contra febre aftosa nas redondezas... O veterinário veio imediatamente! Examinou! Examinou... e ficou olhando para o
dono do burro... — O que aconteceu com meu burrinho, seu “dotor”!
Ele trabaiô diritinho inté agora memo! — Ele está morto há mais de uma semana, meu
amigo! — exclamou o veterinário perplexo. — Chiii! Intão ele tava tão custumado a ir
na cidade e vortá...
qui feis isso a semana inté morto.
Autor: Lucas Durand
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